PARA AS MÃES SOZINHAS

Não há como ser pai e mãe ao mesmo tempo. É um desejo bonito, mas não uma realidade.

Sei de mães que tentam melhorar o pai ausente, mas talvez seja necessário não fingir que ele existe, aceitar a lacuna, não inventar sentimentos pelo outro, não forjar contextos para diminuir a dor e a angústia de seu pequeno.

Siga a rotina com o que tem. Com os personagens de carne e osso em casa. Melhor do que viver remediando as decepções do filho com alguém que não aceitou a paternidade ou não coloca a sua criança como prioridade.

Não existe sofrimento maior do que torturar a esperança de uma criança. São os maus-tratos espirituais. Ela termina confusa, insegura, medrosa, não entendendo o que acontece por completo.

Não minta pelo pai que não buscou o filho na escola, que ficou plantado na recepção até o prédio esvaziar e você receber um telefonema de resgate da secretaria; não minta pelo pai que esqueceu completamente o aniversário do filho e alegou que estava com muito trabalho; não minta pelo pai que combina o final de semana com o filho e desaparece, sem dar notícias, para reaparecer numa data aleatória, como se não fosse nada; não minta pelo pai que não tem tempo de levar o filho para as férias, mas não para de postar fotos com a sua nova namorada em alguma praia paradisíaca; não minta pelo pai que é avisado que o filho está doente e só diz “coitadinho” e não se coça para dar ajuda; não minta pelo pai que atrasou a pensão, confundindo-a com um favor.

Se o pai é o mentiroso, deixe que ele minta, que dê as suas próprias desculpas esfarrapadas – não divida os constrangimentos.

Depois o filho cresce, vê quem é quem e descobre que faltou com a verdade (ainda que por motivos nobres) e descarregará todas as frustrações em você. Porque apenas você existe, apenas você é real, apenas você permanece por perto para ser cobrada.

Já chega o trabalho de ser mãe sozinha

(por Fabrício Carpinejar)

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